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MC Danny: dona de hits de forró sexy como ‘Xerecard’ incomodou até empresa de cartões

Pouca gente faz mais barulho no pop brasileiro hoje do que MC Danny. Sua voz grave entoa versos sexuais de forró sem constrangimento. Ela chega para causar. Tanto que “Xerecard”, hit dela do ano passado, fez a Mastercard, empresa parodiada na letra e no clipe, pedir para tirar sua marca do vídeo.

Ela quase teve que apagar o clipe, hoje já visto mais de 19 milhões de vezes. A Mastercard tentou até tirar do ar todo o canal no YouTube da Love Funk, uma das principais produtoras de São Paulo. Mas, no fim, Danny deu seu jeito: borrou a imagem da marca da empresa e seguiu feliz.

“MC Danny, hein… Não confunda!”. Entre os bordões que invadiram a música brasileira, poucos são tão bons para introduzir a artista por trás dele. É fácil confundir MC Danny de várias formas antes de conhecê-la melhor.

Ela teve a 1ª e a 3ª músicas mais tocadas no Spotify no Brasil no réveillon (“Toma toma vapo vapo”, com Zé Felipe, e “Ameaça”, com Paulo Pires e Marcynho Sensação) – com isso, elas entraram até no top 30 global. Quem ouve de relance os forrós ousados pode ficar confuso sem saber que:

*A nova voz da pisadinha é uma funkeira paulista. Ela tentava emplacar em SP há 10 anos, até virar queridinha do forró.

*As letras são cheias de ousadias e quicadas. Mas Danny se formou no funk “consciente”, sobre a realidade difícil das favelas.

*Nas músicas, ela deixa homens doidos com relações sem sentimento. Na real, Danny vive tranquila com sua namorada.

*Todo mundo está atrás da voz imponente, do ritmo e da liberdade feminina da artista que antes era ignorada.

*Ela fechou ‘feats’ com Barões da Pisadinha e João Gomes, e sua equipe conversa com a de Anitta. Mas ela não quer se prender a uma fórmula – no funk nem na pisadinha.

Danielle Porto Deloste tem 23 anos e cresceu no Jardim Sinhá, Zona Leste de São Paulo. “Minha infância foi um pouco como a de toda periferia. Não tinha muito recurso. Minha mãe trabalhava em shopping, minha avó fazia uns bicos”, conta.

A mãe e a avó são de Vitória da Conquista (BA). Em casa, Danny ouvia muito forró (Calcinha Preta, Xand Avião) e sertanejo (Bruno e Marrone). Mas ela se apaixonou ao ouvir o MC Daleste cantar sobre as cenas que ela via todo dia no Jardim Sinhá.

“Era um funk que mostrava a realidade da minha periferia, da minha vida, da minha casa”, ela descreve. Aos 12 anos, a garota da Zona Leste resolveu virar MC do tal funk consciente, como o ídolo Daleste – assassinado durante um show em 2013.

“Desde os 12 anos eu já trabalhava também. Trabalhei em lava-rápido, entregando panfleto, em fast-food, fui gerente de loja de shopping. Foi difícil. O funk era meu sonho e trabalhar registrada era para me manter e comer.”

Funk inconsciente

A carreira musical não engrenava. “Quando eu cantava consciente não fazia baile. Porque quando você é mulher nesse mundo da música, é mais difícil. No funk é mais difícil. No consciente, pior ainda”. Não havia consciência da igualdade de gênero.

“Eu lançava vídeo no Youtube e no Facebook porque não tinha recurso para produzir uma música no estúdio. Dos dez anos de carreira, seis foram só cantando consciente. Percebi que não conseguia entrar no mercado sendo mulher, sozinha, sem produtora, sem empresário.”

Ela resolveu variar o estilo. “Comecei a ser versátil, a gravar de tudo. Tudo que falavam para mim eu ia lá e gravava.” Ela gravou até trap, mas a barreira mais difícil foi cantar as letras sexuais que estavam em alta no funk: “Eu tinha vergonha. Achava que estava ofendendo as pessoas.”

“Com o tempo eu vi que a recepção foi diferente. Não é a ousadia, é o jeito dançante, o toque, o ritmo. A letra é o que toca na rua. A gente é da periferia, é da rua. A gente quer cantar o que a rua quer escutar. Não quero levar a ousadia para o resto da vida. Mas a gente vai se adaptando com o tempo.”

‘Por que não pode?’

Os MCs já cantavam isso sem problema. O duro foi uma mulher “ter a mesma liberdade, o mesmo passe dos homens”, ela diz. “A gente é muito limitada, não pode falar nada que ‘ah, vocês são isso e aquilo’. Pô, o homem pode falar a hora que quiser. E a gente não pode? Por que não pode?”

Num momento em que os cantores populares brasileiros parecem fascinados com a figura da amante impiedosa, Danny hiponotiza ao encarnar a mulher “ruim no amor, mas boa na cama”, que “senta sem sentimento” e ainda reclama deles: “Prostituto, vagabundo, não vale nada”.

Na era do “tapão na raba”, Danny bate de volta nos homens com ousadia e alegria. Mas a chave do sucesso foi além das letras sexuais – e, principalmente, além da cena do funk de SP. Ela faz parte da produtora paulista Love Funk, que ajuda a amarrar parcerias por todo o país.

Estratégia para ganhar o Brasil

A expansão foi resultado de uma decisão esperta de Danny: colocar na internet todos os vocais limpos, sem batida, para qualquer DJ usar. “O que os DJs fazem? Pegam a minha capella e transformam num ritmo deles. Um ritmo da cultura do estado.”

Esses vocais pré-fabricados são cada vez mais usuais no intercâmbio de sucessos do pop eletrônico brasileiro. Danny foi ainda mais ativa: “Qual foi minha visão? Mandar carimbo (voz para personalizar a faixa) para os DJs de cada estado. E graças a Deus o retorno veio como? Triplicado.”

O primeiro acerto foi no funk de Belo Horizonte, em 2020, quando o DJ mineiro Gui Marques usou a voz em “Vou jogar na sua cara”. Depois, a mesma faixa ganhou um remix brega-funk pernambucano.

Vocal de ‘Xerecard’: não tem preço

O primeiro hit nacional com a estratégia do vocal sem preço veio com a já citada “Xerecard”. A original tinha batida paulista. Depois, o potiguar Jeff Costa transformou em bregadeira e fez estourar no Brasil.

“Não tinha muito ideia com a Mastercard. Ela queria processar, tirar o clipe, remover o canal da produtora. Foi difícil. Mas a gente já editou o clipe, ocultou as partes que lembram a marca deles e graças a Deus eles recuaram”, lembra Danny.

A força de “Xerecard” em Fortaleza pôs Danny no radar dos astros da cidade. Ela emplacou “Não pode se apaixonar”, com Xand Avião e DJ Ivis (antes do vídeo em que ele agride a ex-mulher). Outro hit foi “Sem sentimento”, com o cearense Felipe Amorim e os pernambucanos DG e Batidão Stronda.

“Onde eu vou, qualquer estado do Nordeste, a recepção é excepcional, com muito amor” Mesmo tendo crescido ouvindo os forrós que a avó e a mãe tocavam, ela não sabe explicar porque a conexão com sua voz foi tão forte: “Deus falou: você vai estourar aqui, o Nordeste é o seu lugar”, ela arrisca.

As duas pisadinhas que bombaram na virada foram “Ameaça”, com o paraibano Marcynho Sensação, outra revelação nas paradas, e “Toma Toma Vapo Vapo, com Zé Felipe, goiano antenado na nova música eletrônica do Nordeste.


Fonte: Rodrigo Ortega / G1

Foto de capa: Divulgação

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